O jogo do bicho, uma das práticas de apostas mais populares do Brasil, conquistou lugar não apenas nas ruas e esquinas das cidades, mas também nas telas do cinema e da televisão.
A ideia era simples: cada animal correspondia a um número, e os visitantes que acertassem o animal sorteado ganhariam prêmios. Rapidamente, o jogo saiu do controle, se espalhando pelas classes populares e se tornando um fenômeno cultural.
Porém, sua ilegalidade trouxe ares de mistério e resistência, capturando a atenção do mundo cinematográfico e televisivo.
O fascínio do jogo do bicho no cinema brasileiro
O cinema brasileiro, especialmente no período do Cinema Novo, buscou retratar de maneira autêntica e crítica as questões sociais e culturais do país. O jogo do bicho foi um tema recorrente, especialmente em filmes que se propunham a abordar o cotidiano dos brasileiros e a desigualdade social.
Nas tramas, o jogo do bicho aparece como uma forma de escape para aqueles que enfrentam dificuldades econômicas, uma esperança que, mesmo ilegal, permeia as relações sociais.
Filmes como O Homem do Ano (2003), dirigido por José Henrique Fonseca, trouxeram o tema para o centro das atenções. A trama aborda o envolvimento do protagonista, interpretado por Murilo Benício, com o submundo das apostas e com o jogo do bicho, oferecendo uma visão da complicada rede de interesses e poderes.
Representações do Jogo do Bicho na Televisão
Na televisão brasileira, o jogo do bicho também marcou presença, especialmente em novelas e séries que buscam o cotidiano das comunidades. Em Avenida Brasil (2012), novela de João Emanuel Carneiro, o personagem Leleco (interpretado por Marcos Caruso) exemplifica o “apostador” típico, que vê no jogo uma diversão e uma esperança de sorte, mesmo que os resultados nem sempre sejam favoráveis.
As representações na televisão ilustram frequentemente o dilema ético e social que envolve o jogo: ele é, ao mesmo tempo, um problema legal e uma atividade culturalmente aceita, principalmente no estado de São Paulo, onde é muitas vezes apelidado de jogo do bicho SP.
Jogo do Bicho SP e o Caráter Cultural da Prática
Além das narrativas fictícias, documentários e produções investigativas também abordaram o jogo do bicho como uma prática ilegal, mas tolerada. Por exemplo, o documentário Jogo de Cena busca histórias reais de apostadores e de pessoas ligadas a essa prática, revelando um universo paralelo em que a lei formal se choca com uma “lei não escrita”, onde o jogo do bicho é uma alternativa econômica e até mesmo cultural.
O jogo do bicho é, para muitos brasileiros, uma prática controversa, mas profundamente ligada na cultura popular. A presença dessa atividade nas produções de cinema e televisão reflete não apenas o fascínio que desperta, mas também as complicadas camadas de moralidade, economia e sociedade que envolvem o jogo.
Nas telas, o jogo do bicho ganha vida como símbolo de uma aposta arriscada, mas esperançosa, por uma mudança de vida, por menor que seja. Ao contar as histórias de apostadores, chefes de banca e seus efeitos no cotidiano, o cinema e a televisão não apenas entretêm, mas também jogam luz sobre um pedaço da alma cultural brasileira, desafiando o espectador a compreender o fascínio por trás do aparentemente simples ato de escolher um animal e apostar.